Jô Soares • O homem que matou Getúlio Vargas

• A idéia é boa: o protagonista, embora fictício, participa de momentos importantes da história, convive com nomes tais como Mata Hari, Al Capone e Benjamim Vargas (o irmão de Getúlio), e tem contatos eventuais com Pablo Picasso, Apollinaire, Graciliano Ramos, F.D. Roosevelt e muitos outros.
• Trata-se de Dimitri Borja Korozec, filho de um anarquista sérvio e de uma mulata brasileira, que se forma numa escola de assassinos e sai pelo mundo procurando opressores para matar. Suas viagens levam o leitor a envolver-se nos preparativos para os assassinatos do Arquiduque Francisco Ferdinando (que deu início à Primeira Guerra) e do deputado socialista Jean Jaurés em Paris; nas tramas da espiã Mata Hari; na propagação da Gripe Espanhola que deixou 20 milhões de mortos em 1918-1920; na débâcle do grupo de Al Capone em Chicago; e, entre outras aventuras, nas tentativas de assassinato de Roosevelt e Getúlio Vargas. Bom para estudiosos da história contemporânea, que aprendem fatos novos em meio à erudição do autor (autorizada por uma farta bibliografia apresentada ao final do livro, como se fosse um trabalho acadêmico e não um texto de literatura comercial).
• A idéia é boa, mas a execução deixa a desejar. Embora escrito com fluência, há uma preocupação excessiva em demonstrar conhecimento sobre todos os temas históricos tratados, fazendo com que às vezes o texto torne-se enfadonho. O que menos me agradou, porém, é que o humor – que deveria ser o forte do livro – é fraco, composto basicamente por piadas prontas ou previsíveis. Lembrei-me de um texto perdido de minha pré-adolescência, uma paródia de 007, em que eu desfiava piadas prontas e trocadilhos sem graça sobre meus detetives 008 e 009 (o sete já tinha morrido, assim como morreriam o oito e o nove, por incompetência própria ou falta de paciência de seus arqui-inimigos).
• Recomendo, entretanto, o livro: sobretudo para leitura em saguões de aeroporto ou rodoviária, ou ainda para quem gosta de ler no ônibus ou no avião, pois as letras grandes ajudam. Também é recomendado para salas de espera de dentistas ou urologistas, ou para aqueles dias em que você chega em casa sem vontade nenhuma de pensar, e mesmo a novela das seis lhe exigiria um esforço sobre-humano. Leia então o Jô. Emprestado.

SOARES, JÔ. O homem que matou Getúlio Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 342 p. R$ 46,50.

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